Bastardos, corvos e muralhas ao inverno

Tu me ceifaste, tão vorazmente,

Como em cada corpo que tu extrai vida,

Mas ao invés da tua lâmina fria,

Tu me perfura com a aurora que é gélida, mas que me aquece.

Teu olhar é vago, sempre distante:

Mesmo frente à frente,

É como se oceanos separassem nossa íris,

E é neles que eu reconheço a solidão

Que também me pertence.

Tua voz é de veludo, sussurrada.

Cada palavra tua é como uma carícia.

Ainda que eu sinta a tua tristeza fundir-se à minha,

Teu estar é sereno, me dá a paz que me falta

E mesmo que ainda haja medo,

Tu junto à mim é abrigo.

É como um nó além do que se vê:

Teu toque nos estreita,

E tua partida não nos desata.

É um emaranhado intenso,

Mas com a delicadeza de um laço.

A escuridão dos teus cabelos,

Que se estende pelos teus ombros largos,

Coincide com o negro dos teus olhos.

Tua pele se aproxima à neve que nos cerca .

A serenidade tua me acolhe, protege

Ampara minha áurea inquieta.

E mesmo no frio,

Com a tua imensidão

Tu junto à mim é sopro,

Suave, mas impetuoso,

Me atrai, me leva e me arrasta à ti.

É minha muralha, no inverno que está chegando.

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